Quando se perde a fantasia do sonho, o que fazer?
Medicina é um sonho. Pergunte aos
estudantes de medicina o porquê de terem escolhido esse curso. A maioria dirá
que era um desejo de infância que persistiu durante a adolescência, foi alimentado
pelas aulas de Biologia e em fim começou a ser consolidado durante os dias de
estudo na faculdade e hospitais, e as longas noites de estudo em casa.
É um sonho que persiste. Persiste
à saudade de todos aqueles que estudam longe da família. Persiste ao cansaço, aos
esforços nem sempre recompensados, persiste toda vez que se vê o sofrimento nos
corredores dos hospitais e persiste ao sentimento de impotência que isso trás. O
sonho TEM que persistir, pois sempre é ele que nos da força pra continuar.
E o que é esse sonho? É a vontade de ajudar, de fazer a
diferença na vida de alguém, de fazer uma pequena diferença nesse mundo.
Isso é o que move a maioria das pessoas que decidem pela medicina. Assim
aconteceu comigo também. Meu sonho sempre foi a minha força. Agora porém, me
vejo em uma situação em que minha força tem que sustentar meu sonho. E isso me
deixa com medo.
Vejo de todos os lados nesse país,
ideias, decisões, pensamentos, atos que destroem, rasgam, despedaçam o meu
sonho. É o governo que não me dá qualquer perspectiva de que haverá condições
para que eu possa realizá-lo (com a qualidade que deve ser realizado), é a
população que me julga como o “filhinho de papai” que só quer saber de dinheiro,
são os outros profissionais de saúde que me veem como egoísta por simplesmente pensar
na segurança e bem estar dos meus futuros pacientes.
E aqui eu fico segurando todos os
pedacinhos do meu sonho rasgado, colando um a um, com a mesma paciência com que
aprendi as pequenas partes da anatomia humana, com a mesma paciência com
que memorizei as fisiopatologias mais difíceis e todas aquelas manobras semiológicas.
Seguro meu sonho como quem segura um bichinho ferido, porque sei que com todo meu
cuidado ele vai sobreviver.
Ele é forte, eu sou forte. Eu
tenho a esperança de existir um dia nesse país a medicina com que eu sempre
sonhei, sei que um dia a população terá o sistema de saúde que merece, não só na
teoria. Claro, provavelmente não viverei para ver esse dia, por isso perdi a
fantasia do meu sonho, mas o sonho NUNCA irá morrer. Mesmo todo machucado, o
faço persistir, porque sei que não sou a única a sonhar, e quando muitos
sonham, mudanças podem ocorrer.
Enquanto isso, é continuar a lutar com esses pedacinhos de sonho rasgado, ajudando da melhor forma que puder,
dando o melhor de mim. É tudo o que posso fazer, porque no final das contas...
but above all, a FIGHTER.
Lívia C.B.
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