terça-feira, 30 de agosto de 2011

Tenho medo

http://www.flickr.com/photos/enyouart
Tenho medo de não tomar as decisões corretas e de não conseguir ser quem eu quero ser um dia. Tenho medo de que uma frase minha seja interpretada da forma errada. Tenho medo de sofrer, e consequentemente, tenho medo de amar.

Tenho medo de confundir meus sentimentos, medo de dizer o que eu sinto, medo de não dizer o que eu sinto e medo de nunca dizer o que eu sinto. Tenho medo do que pode acontecer, tenho medo do que pode não acontecer.

Tenho medo de ser inconveniente e medo de parecer ser o que eu não sou. Medo de ser ingênua e medo de falar pra muita gente. Tenho medo de mim mesma, e das coisas que eu ainda vou descobrir sobre mim. Tenho medo de ser enganada e tenho medo de ser ignorada.

Tenho medo de todos os NÃOS que virão em minha vida, e tenho medo de alguns SIMS também. Tenho medo de, pouco a pouco, parar de fazer as coisas que eu gosto, por falta de tempo, ou por falta de ânimo. Tenho muito medo de esquecer de ser eu, pra viver apenas a vida dessa estudante desesperada que só pensa em artérias, fígados, baços e tudo que existe na barriga da gente.

Tenho medo de ter errado sem perceber, e de ter afastado sem querer pessoas que eu amo. Tenho medo de me perder nesse caminho que resolvi seguir.

Mas principalmente, tenho medo de não conseguir mais escrever para o Pulo de Pipoca, medo de perder a minha imaginação, medo de ver esse meu cantinho abandonado. E quanto mais eu olho para o blog sem novas ideias, sem novas postagens, tristinho assim, mais angustiada eu fico. Por que a Lívia que eu conheço nunca ficaria sem inspiração por tanto tempo.

O que fazer quando o medo paralisa e entristece?

Lívia C.B.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Dois capuccinos, por favor.

http://www.flickr.com/photos/enyouart/
Era mais uma manhã fria de domingo em Paris. Como de costume, acordei perdida em meio a uma tonelada de edredons e uma pontinha de mau humor matinal rondava o meu ser. Típico.

Também como de costume, virei para o lado e olhei você dormindo tranquilamente. Seus lábios entreabertos lhe davam um charme irresistível. É raro alguém ser bonito até quando dorme. Foi o que eu pensei , deixando de lado aquele mau humor indesejável. Nada iria estragar o meu dia. O nosso dia.

Levantei-me, escovei os dentes, pensei na possibilidade de tomar um banho, mas logo desisti da idéia, dois graus negativos não é uma temperatura razoável para despir-se, definitivamente. Quando voltei para o quarto você já estava elegantemente trajado em um sobretudo preto e procurava por todos os cantos as suas luvas de lã.

Perguntei o que era aquilo, afinal o nosso domingo não era assim. Quer dizer, a tradição era você fazer o nosso café da manhã. Torradas, queijo, bolachinhas e chocolate quente. Depois de saborearmos o banquete, filmes nos esperariam para preencher todo o dia com histórias fascinantes. A tradição não era eu ser deixada sozinha (e com fome).

Você disse que aquele domingo seria diferente. Nós faríamos uma caminhada e depois tomaríamos o nosso chocolate no Café de Flore. Certo. Caminhar. No frio. Com fome. Péssima idéia. Claro que eu não disse isso, mas pensei. O mau humor começava a rondar-me novamente.

Caminhamos de mãos dadas. Você estava lá pertinho de mim, mas era como se estivesse looonge, muito longe. Em qualquer lugar em que houvesse uma placa escrito: Proíbida a entrada da namorada enxerida. Eu respeitei o seu espaço, apenas mantive-me avulsa àquela situação. Se fosse importante o que te preocupava, você iria me contar, mesmo que levasse algum tempo. Porque você sabia que eu te amava, e eu achava que você me amava, pelo menos até aquele momento.

Longos minutos de silencio se passaram, até chegarmos ao Café de Flore. Maravilha, chocolate quente passando pela minha garganta era tudo que eu precisava. Talvez um croissant depois, ou algo com morangos e chantilly. Perfeito.

Dois capuccinos, por favor.
Ouvi a sua voz ecoando pelo recinto. Dois capuccinos, por favor. Nada estava certo. Aquilo não era um bom sinal. Você sabia que a presença de cafeína no meu organismo é permitida apenas em momentos altamente estressantes, tipo numa terceira guerra mundial, tipo num terremoto ameaçando minha vida.

Mal sabia eu: O que estava por vir era bem pior que qualquer uma das alternativas anteriores.

Você desviou o olhar para o lado e se desculpou. Aqueles seus olhos fixos que tanto me encantavam agora estavam inquietos, e me irritavam. Desculpas por quê? Foi aí que você olhou fixamente para a garçonete que acabára de chegar, da mesma forma encantadora com que você me olhava... quando dizia que me amava.

Aquele olhar para a moça foi um detalhe de segundos que não me escapou. Sempre fui observadora, e sempre prezei por essa qualidade. Uma observação de instantes transforma totalmente o modo de entender as coisas.

Você ia dizer que nossa relação estava desgastada, que nosso amor não era mais o mesmo, e que precisava de um tempo. Paciência, eu iria levantar, pedir um chocolate quente duplo e sair segurando as lágrimas. Isso se eu não tivesse visto aquele olhar.

Depois de entender tudo, eu não poderia deixar que você mentisse. Apenas terminei a nossa relação eu mesma, e pedi que você se retirasse da minha frente. Te olhei indo embora enquanto a moça servia os capuccinos e me cumprimentava alegremente.

Você não ia me contar que tinha outra mulher. Você não ia me contar que a outra mulher era a garçonete do Café de Flore. Você não ia me contar porque você sabia que a garçonete do Café de Flore não é uma simples mulher. A garçonete do Café de Flore é minha irmã.

Tomei os dois capuccinos em segundos, sem segurar as lágrimas, sem responder ao que a minha irmã me perguntava, sem prestar atenção ao que acontecia em minha volta. Porque dentro de mim um terremoto destruía meu coração, deixava-o em pedaçinhos.

Empurrei a cadeira, enxuguei o rosto e o que eu vi, a imagem dos capuccinos vazios, atormentou o meu sono por muito tempo. Dois copos separados, um em cada canto de uma mesma mesa. Um casal separado, os dois dormindo em uma mesma cama. A minha cama. Irmãs separadas por um mesmo, e cafajeste, amor.

Lívia C.B.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Uma lição para nunca esquecer.


Em um dia perdido no meio das férias, eu estava lendo uma revista e lembro que uma frase me chamou atenção, era mais ou menos assim:

“É preciso encontrar uma maneira de dar mais vida aos nossos anos, ao invés de apenas acrescentar anos e mais anos em nossas vidas.”

Pensei nessas palavras por vários dias. Pensei nas formas com que eu fazia meus anos valerem a pena, pensem nas pessoas que faziam a minha vida mais interessante, pensei no que eu deixava escapar e no que eu apenas acrescentava sem necessidade alguma.

Acho que eu pensei de mais até.

No fim eu cheguei a conclusão de que eu deveria valorizar mais algumas coisas, e esquecer completamente outras coisas.

Porque muitas vezes focamos a nossa atenção exatamente naquilo que não deveria ser o mais importante. Superestimamos pessoas que não merecem se quer a nossa estima, que dirá uma super estima. Sofremos por detalhes passageiros, supérfluos. Fantasiamos a vida, pelo simples medo de encarar a realidade.

E assim os anos passam, e as lembranças ficam. Algumas são boas, outras nem tanto. Algumas são insossas, sem sal, sem doce. Há ainda aquelas que deveriam ser boas, mas que martelam todos os dias na nossa mente, em um tormento eterno (essas são as piores).

Enfim, acho que a vida é feita de fases. Não estou falando de infância, adolescência, velhice, não. Estou falando de fases curtas. Fases em que se está radiante por algum motivo, fases em que se está triste por outro motivo, fases em que tudo parece possível, e outras em que o mundo parece pesar nas costas.

Resolvi que acrescentarei vida aos meus anos independente das fases por quais eu passar. Independentemente da minha vontade de sorrir, eu sempre estarei sorrindo. Quem sabe o sorriso torne tudo mais fácil. Quem sabe ele ajude a afastar as preocupações e os medos. Tomara que sim!

Lívia C.B.